Avaliação: JAC E-JS1 evolui muito com ajuda da VW
Quantas vezes vocês já não leram "esse carro chinês tem um ótimo preço, mas ...". Eu mesmo devo ter escrito essas mesmas palavras diversas vezes desde 2010, quando os asiáticos começaram a participar com mais força do mercado brasileiro. Então, quando a JAC lançou o E-JS1 e apelou para "o elétrico mais barato do Brasil", já estava pensando onde estaria a pegadinha.
O que não levei em consideração imediatamente foi que os carros elétricos da JAC não são mais frutos apenas do esforço dos chineses. Há alguns anos, a Volkswagen comprou uma participação nos negócios eletrificados da JAC na China, formando a joint-venture chamada SOL e o E-JS1 vem dela. Com isso, a marca do Sérgio Habib deu uma de "Guerra nas Estrelas" e ganhou "uma nova esperança"? Por R$ 149.990, pode ser que sim. Até porque mais barato que ele em outra marca é o Renault Zoe, que parte de R$ 204.990, uma diferença considerável.
O que é?
O E-JS1, a evolução do iEV20 (que era baseado J2), pode até ser chamado de primeiro Volkswagen elétrico vendido no Brasil, literalmente. É um dos produtos JAC-VW, ou SOL, na China. Na prática, ainda é o carro subcompacto que conhecíamos, mas com uma série de mudanças.
Sendo elétrico, traz um motor de 45 kW, ou cerca de 62 cv de potência, instalado no eixo dianteiro. O número pode parecer baixo, mas dois pontos do E-JS1 amenizam essa impressão. Primeiro é o que JAC é bem leve para um elétrico, pesando 1.180 kg. O segundo é algo que vocês já deveriam ter aprendido há muito tempo: o que importa é o torque. E isso ele tem bastante, com 15,3 kgfm. O finado VW up! TSI, por exemplo, tinha pouco mais de 17 kgfm e ninguém falava que ele era lento...
O visual chega a ser engraçado. Não porque o JAC E-JS1 seja cômico, mas pois sua silhueta ainda lembre o J2 com a dianteira que parece um Volkswagen ID.3 em miniatura. Isso inclui os filetes plásticos no parachoque dianteiro, os faróis afilados e o elemento que os liga. Isso tudo é o toque da Volkswagen na JAC.
Interessante notar também que o JAC E-JS1 tem uma solução diferente para as baterias. O tipo mais encontrado hoje é a de íons de lítio. No subcompacto, são de Fosfato de Ferro-Lítio (Li-Fe-PO). A diferença em entrega é pequena, mas esse tipo de bateria é mais resistente em climas extremos.
A solução também é usada pela Toyota no Prius com tração integral ofertado na América do Norte, onde as temperaturas são baixas. A contrapartida é que as baterias de Li-Fe-PO costumam resistir a menos ciclos de carregamento. Em todo caso, no E-JS1, são 30,2 kWh de capacidade, o que dá uma autonomia de 302 km. A recarga rápida em eletropostos (de 15% a 85%) leva 1 hora. Em wallbox com cerca de 7 kW, são 3,5 horas. Já em uma tomada caseira, uma carga completa (0% a 100%) requer 11 horas.
Como anda?
Depois de entender que o JAC E-JS1 é literalmente meio VW meio JAC por fora, foi a hora de conferir o modelo por dentro. Acabamento interno sempre costumava ser o ponto fraco dos chineses baratos e posso dizer que nesse quesito fui surpreendido novamente, pois agradou logo de cara.
Claro que os materiais ainda são compostos basicamente por plásticos rígidos, mas a qualidade de montagem deu um salto. A cabine também transparece que alguém perdeu um tempo no desenho. Os comandos ficaram em posições mais intuitivas e a mescla de cores e tecidos deu uma nova vida ao antigo J2.
Aqui vale ressaltar que o carro testado ainda era um protótipo de homologação. Por conta disso, alguns itens vão ser avaliados em uma próxima oportunidade, com um teste completo. A central multimídia com tela de 10,25 polegadas, por exemplo, estava com os menus totalmente em mandarim. Não entendi uma palavra do que estava escrito e mesmo assim consegui navegar até sincronizar meu telefone ao Bluetooth do carro e regular o ar-condicionado.
Pessoalmente, não gosto de carros onde os comandos do ar ficam na tela. Mas como é um ar-condicionado automático, as chances são de que você irá ajustá-lo uma vez e nunca mais se preocupar com isso. Por outro lado, a pequena tela do painel de instrumentos (6,2") se mostrou bem acertada, com boa resolução e rápida nas trocas de menus.
Claro que ainda estamos falando de um subcompacto que um dia, lá no passado, foi um JAC J2. Então o espaço no banco traseiro é pequeno. Mas o elétrico é um pouco melhor por não ter o túnel central atrapalhando no assoalho. O porta-malas também vai fazer você escolher entre levar 5 passageiros, ou 2 e bagagens. Os dois ao mesmo tempo não tem como.
Por um lado, minha cabeça ficou martelando que era um carro de R$ 150 mil com ajustes manuais para bancos e volante. De outro, o JAC E-JS1 já tem função auto-hold, freio de estacionamento eletrônico e piloto automático. O que precisa mudar para entender o preço do elétrico é que o valor pago vai em grande parte para as baterias e a tecnologia de eletrificação. Não dá para compará-lo com um modelo a combustão na mesma faixa de preço em termos de equipamentos.
Indo para performance, como disse acima, esqueçam o número de potência e foquem no torque, é ele quem manda. O JAC E-JS1 não vai ganhar nenhuma prova de arrancada e a velocidade máxima é limitada a 110 km/h. Dito isso, o modelo faz além do esperado na cidade. Ganha velocidade rapidamente e, com um bom isolamento acústico, você vai se pegar acima do limite de velocidade várias vezes sem perceber.
Mais uma vez sentindo o toque da VW no carro, o JAC E-JS1 trouxe um nível de qualidade de rodagem que nunca tinha experimentado em modelos da chinesa. Não é só acabamento interno, é nível de ruído na cabine, barulho de vento reduzido e até mesmo a suspensão, que ficou mais firme e segura nas mudanças de direção ao mesmo tempo em que parou de ser presente na miríade de barulhos presentes na cabine de um carro chinês.
Quanto custa?
A JAC oferecerá o primeiro elétrico da SOL no Brasil por R$ 149.990 em versão única. Entre os equipamentos de série do E-JS1, é difícil bater o martelo sobre o que virá ou não. Mas a lista provisória com a qual a JAC está trabalhando inclui piloto automático, freio de mão eletrônico, ar-condicionado automático, direção elétrica, bancos de couro, volante multifuncional, chave presencial, câmera de ré, rodas de 14" e controle de estabilidade.
Mas ficam algumas mancadinhas. Uma é oferecer apenas duplo airbag frontal, então não fez mais que a obrigação nesse quesito. A outra é ter apenas uma entrada USB para o carro inteiro. Em tempos de pessoas cada vez mais conectadas o tempo inteiro, mesmo quando não deveriam, fez falta.
Como o JAC E-JS1 que andei tinha tomada no padrão chinês, preferi não correr riscos com a carga que eu tinha nas baterias. Rodei normalmente na cidade. Foram 120 km com 40% da bateria. Então, apesar de a autonomia declarada pela marca ser no padrão chinês de medição, não me pareceu muito fora da realidade.
No final das contas, o JAC E-JS1 vai chegar para fazer exatamente o que ele se propõe: ser o elétrico mais barato do Brasil. Mas, ao contrário dos primeiros chineses que eram "os mais baratos do Brasil" e tinham problemas de acabamento e confiabilidade, o E-JS1 é muito mais refinado e completo. Só precisou da Volkswagen para dar uma ajuda.
Por: Thiago Moreno